sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Africano nagô, que pode ser identificado pelas marcas étinicas no rosto.
Essa é uma cena da revolta, a justiça provocando a morte.






quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Revolta dos malês.


Jean Baptiste Debret, o calar de fero-castigo para os fugitivos viagem pitoresca e hitórica ao Brasil.


Confronto entre as tropas da Guarda Nacional e os negros.








‘‘Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã’’.

Luis Gama, poeta e abolicionista escrevendo sobre sua mãe.

O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malês, por serem assim chamados os negros muçulmanos que o organizaram. A expressão malê vem de imalê, que na lingua iorubá significa muçulmano. Portanto os malês eram especificamente os muçumanos de lingua iorubá, conhecidos como nagôs na Bahia. Outros grupos, até mais islamizados como os haussás, também participaram, porém contribuindo com muito menor número de rebeldes.

Durante as primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas. Sendo a maioria deles composta por "negros ou negras de ganho" ou "ganhadores ou ganhadeiras", tinham mais liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.
O medo de que um novo levante pudesse acontecer se instalou nos habitantes da Bahia e se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil. Em quase todas elas, principalmente na capital do país, o Rio de Janeiro, os jornais publicaram notícias sobre o acontecimento na Bahia e as autoridades submeteram a população africana a uma vigilãncia cuidadosa e muitas vezes a uma repressão abusiva.
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros**. Duzentos escravos foram levados aos tribunais.
Acima de tudo, apesar de derrotada, a Revolta serviu como inspiração fundamental para as lutas contra a escravidão, não só pelo exemplo que forneceu, mas também pelo envolvimento de muitos de seus líderes e participantes, como Luiza Mahin em outros processos. Uma lição que continua viva na necessidade de travar uma luta sem tréguas contra o racismo, toda forma de intolerância e, particularmente, contra o sistema que alimenta estas práticas. O colonial, no passado; o capitalista, na atualidade.



http://www.gil.adm.br/guiadeturismo/trabalhos/revoltadosmales.htm

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Revolta dos Malês

A revolta dos Malês pode ser compreendida como um conflito que deflagrou oposição contra duas práticas comuns herdadas do sistema colonial português: a escravidão e a intolerância religiosa. Comandada por negros de orientação religiosa islâmica, conhecidos como malês, essa revolta ainda foi resultado do desmando político e da miséria econômica do período regencial.
Com o deslocamento do eixo econômico-admininstrativo do Brasil para a região sudeste e as constantes crises da economia açucareira, a sociedade baiana do período tornou-se um sinônimo de atraso econômico e desigualdade socioeconômica. Além desses fatores, devemos também destacar que as prescrições religiosas incentivadas pelas autoridades locais promoveram a mobilização desse grupo étnico-religioso específico. Anos antes da revolta, as autoridades policiais tinham proibido qualquer tipo de manifestação religiosa em Salvador. Logo depois, a mesquita da “Vitória” – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades. Dessa maneira, os malês começaram a arquitetar um motim programado para o dia 25 de janeiro de 1835. Nesta data, religiosa na cidade Bonfim esvaziaria as ruas de Salvador dando melhores condições para a deflagração do movimento.
Naquela mesma data, conforme a tradição local, os escravos ficariam livres da vigilância de seus senhores. Entre os ideais defendidos pelos maleses, damos destaque à questão da abolição da escravatura e o processo de africanização de Salvador por meio do extermínio de brancos e mulatos. Mesmo prevendo todos os passos da rebelião, o movimento não conseguiu se instaurar conforme o planejado. A delação feita por dois negros libertos acionou um conflito entre as tropas imperiais e os negros malês. Sem contar com as mesmas condições das forças repressoras do Império, o movimento foi controlado e seus envolvidos punidos de forma diversa. Apesar de não alcançar o triunfo esperado, a Revolta dos Malês abalou as elites baianas mediante a possibilidade de uma revolta geral dos escravos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Revolta dos Malês

Levante dos Malês: “cultura, identidade e resistência negra no Brasil”. Ogunbiui regiolisidade Islâmica e identidade étinica no levante dos Malês:
Revolta dos Malês

RESUMO

A partir da análise histórica e sociológica de diversos(as) autores(as) pretende-se abordar aspectos da Revolta dos Malês enfocando sua contribuição para a resistência negra no Brasil. Tal abordagem levará em consideração, também, uma visão militante sobre a Revolta dos Malês traçando-se uma panorâmica da data nas atividades do Movimento Negro Unificado – MNU, na região do ABCDMRR.

Palavras Chaves: Revolta – Malês - Resistência Negra – Movimento Negro Unificado – MNU no ABCDMRR.

Considerações preliminares

Nossa abordagem se faz, a princípio, a partir dos saberes adquiridos antes e durante a militância no Movimento Negro Unificado – MNU onde construímos um conhecimento que acreditamos vai para além daquele elaborado academicamente. Com todo o respeito que reputamos à academia, não foi ela quem nos possibilitou conciliar a teoria à prática e a prática à teoria. Nossa práxis, ou seja, nossa prática social foi forjada no coletivo concomitantemente a toda teoria.
Entendemos que falar sobre a Revolta dos Malês é desconstruir a “visão deturpada que hoje se tem de África e de seus filhos e filhas”. Visão esta que é, segundo Abdias do Nascimento, fruto de um processo de falsificação executada com maestria, desde o século XIX, por historiadores, sociólogos e antropólogos engajados numa guerra ideológica cujo principal objetivo estratégico era, e continua sendo, justificar para perpetuar – a supremacia européia a povos não-brancos. (NASCIMENTO, 1998, p.86 – grifos nossos).
Opta-se pelo termo Revolta, pois conota ação ou efeito de revoltar-se e, em última acepção: justa indignação. No contexto do período escravagista a Revolta dos Malês deve ser vista como uma raiz de todo o movimento e vivência, é só porque alguma coisa contém em si mesmo uma contradição, que ela se movimenta, possui impulso e atividade. (KOVALHOV, 1980, p.89) As contradições antagônicas são as contradições entre classe, grupos sociais, forças sociais, que têm interesses profundamente contrários, mutuamente exclusivos, no caso entre escravizados(as) e os(as) senhores(as) de escravizados(as). Tais contradições não podem ser resolvidas nos limites do sistema social onde surgiram. Para isso é necessária a revolução social durante a qual o estado social antigo é liquidado e surge um novo. Daí a Revolta dos Malês.

ANÁLISE DE ALGUNS ESCRITOS SOBRE A REVOLTA DOS MALÊS

Apesar da alegação de que textos, escritos acadêmicos/científicos trazem em sim o vezo da neutralidade o que se observa é o contrário, e não poderia ser diferente. Pesquisando e analisando livros que abordam a Revolta dos Malês nos deparamos com diversificadas posições, neste sentido escolhemos alguns autores para demonstrar nossa hipótese.
Júlio José Chiavenato apresenta-nos, em O Negro no Brasil, importante livro sobre a situação racial na sociedade brasileira, a Revolta dos Malês como uma luta “pelo direito de ter uma alienação”. Não a entende no contexto de luta de classe, não a compreende como revolucionária.(CHIAVENATO, 1986, p. 151).
Relata, ainda, que “os malês quase vencem a guerra religiosa e fundam um estado teocrático” enfatizando que “o erro da guerra santa era justamente ser “santa”: a jihad africana estava dirigida contra todos os infiéis”. (idem, p.154-157)
Chiavenato, no nosso entendimento, faz uma interpretação distorcida da Revolta quando tira-lhe a conotação revolucionária. Sabemos todos(as) que revolução é mudança fundamental da base e da superestrutura duma sociedade. Negar à Revolta dos Malês seu conteúdo revolucionário é negar a Revolução Francesa o mesmo caráter. Por outro lado, interpreta dentro de uma visão do senso comum o termo Jihad e erroneamente anexa-lhe o entendimento de guerra santa, quando originalmente o significado deve ser: “esforço máximo e contínuo de cada um(a) à serviço de Deus”. (MAUDUDI, 1409H – 1989 DC, p.137)
Em “Bantos, Malês e Identidade Negra”, Nei Lopes traça um percurso histórico sobre os Malês e as Revoltas Negras na Bahia observando que:

Dado o grau considerável de escolaridade e consciência política com visão e experiência militar, com maior capacidade de organização e conhecendo técnicas mais novas de fabricação e uso de armas certamente transmitiam aos outro(as) negros(as), juntamente com as informações sobre o que se passava em África, o germe da revolta e da insubmissão. (LOPES, 1988, 59-77)

Afirma, ainda, que “a revolta de 35 pretendia uma Bahia só de africanos [...] sem a visão de um estado islâmico”. (idem, p.67)
Também, em “Bantos, Malês e Identidade Negra” vamos encontrar desinformações sobre Jihad.
Os “Africanos no Brasil”, do maranhense Nina Rodrigues, considerada uma das obras mais completas do gênero, contribuiu também para disseminar a visão de que a Revolta dos Malês tinha um cunho exclusivamente religioso, inclusive impregnando futuros(as) autores(as) da idéia da revolta como uma Jihad, sinônimo de guerra santa.

CONCLUSÃO

A abordagem desprentenciosa e inconclusa teve como objetivo pinçar alguns aspectos que se entende importantes para a compreensão da Revolta dos Malês e seus reflexos, ao longo dos séculos, na conscientização e conseqüente resistência negra na sociedade brasileira. Passados cento e setenta e dois anos desse evento histórico temos a data sendo comemorada, através da reivindicação de uma organização do movimento negro: a Associação Posse Hausa e acatamento da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo, por intermédio do Vereador José Ferreira, assim como da Prefeitura, por meio do Departamento de Ações Culturais, e contando com o apoio do CDIAL - Centro de Divulgação do Islam para América Latina.
A trajetória de luta e resistência é longa e, para o Movimento Negro Unificado – MNU e sua militância, na região do ABCDMRR, começa em 1989, quando a data era lembrada em atividades realizadas desde a Casa Mulher Nora Astorga até publicação de boletins informativos do GT – Balogun, passando por inúmeras atividades próprias e em projetos em parceira com as prefeituras de Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Rio Grande da Serra numa tentativa de sensibilizar setores recalcitrantes/conservadores/desumanizadores à inclusão daquilo que atualmente é obrigatório por lei.
Com advento da Lei nº 10.639/03, que alterou a Lei nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e obriga a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino e temática História e Cultura Afro-Brasileira e em complementação institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para a Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino fundamental e médio, acreditamos melhor sorte será reservada às novas gerações.
Superamos alguns percalços, mas como existem muitos entulhos desumanizadores: “A luta continua! A vitória é certa!”