segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Revolta dos Malês

Levante dos Malês: “cultura, identidade e resistência negra no Brasil”. Ogunbiui regiolisidade Islâmica e identidade étinica no levante dos Malês:
Revolta dos Malês

RESUMO

A partir da análise histórica e sociológica de diversos(as) autores(as) pretende-se abordar aspectos da Revolta dos Malês enfocando sua contribuição para a resistência negra no Brasil. Tal abordagem levará em consideração, também, uma visão militante sobre a Revolta dos Malês traçando-se uma panorâmica da data nas atividades do Movimento Negro Unificado – MNU, na região do ABCDMRR.

Palavras Chaves: Revolta – Malês - Resistência Negra – Movimento Negro Unificado – MNU no ABCDMRR.

Considerações preliminares

Nossa abordagem se faz, a princípio, a partir dos saberes adquiridos antes e durante a militância no Movimento Negro Unificado – MNU onde construímos um conhecimento que acreditamos vai para além daquele elaborado academicamente. Com todo o respeito que reputamos à academia, não foi ela quem nos possibilitou conciliar a teoria à prática e a prática à teoria. Nossa práxis, ou seja, nossa prática social foi forjada no coletivo concomitantemente a toda teoria.
Entendemos que falar sobre a Revolta dos Malês é desconstruir a “visão deturpada que hoje se tem de África e de seus filhos e filhas”. Visão esta que é, segundo Abdias do Nascimento, fruto de um processo de falsificação executada com maestria, desde o século XIX, por historiadores, sociólogos e antropólogos engajados numa guerra ideológica cujo principal objetivo estratégico era, e continua sendo, justificar para perpetuar – a supremacia européia a povos não-brancos. (NASCIMENTO, 1998, p.86 – grifos nossos).
Opta-se pelo termo Revolta, pois conota ação ou efeito de revoltar-se e, em última acepção: justa indignação. No contexto do período escravagista a Revolta dos Malês deve ser vista como uma raiz de todo o movimento e vivência, é só porque alguma coisa contém em si mesmo uma contradição, que ela se movimenta, possui impulso e atividade. (KOVALHOV, 1980, p.89) As contradições antagônicas são as contradições entre classe, grupos sociais, forças sociais, que têm interesses profundamente contrários, mutuamente exclusivos, no caso entre escravizados(as) e os(as) senhores(as) de escravizados(as). Tais contradições não podem ser resolvidas nos limites do sistema social onde surgiram. Para isso é necessária a revolução social durante a qual o estado social antigo é liquidado e surge um novo. Daí a Revolta dos Malês.

ANÁLISE DE ALGUNS ESCRITOS SOBRE A REVOLTA DOS MALÊS

Apesar da alegação de que textos, escritos acadêmicos/científicos trazem em sim o vezo da neutralidade o que se observa é o contrário, e não poderia ser diferente. Pesquisando e analisando livros que abordam a Revolta dos Malês nos deparamos com diversificadas posições, neste sentido escolhemos alguns autores para demonstrar nossa hipótese.
Júlio José Chiavenato apresenta-nos, em O Negro no Brasil, importante livro sobre a situação racial na sociedade brasileira, a Revolta dos Malês como uma luta “pelo direito de ter uma alienação”. Não a entende no contexto de luta de classe, não a compreende como revolucionária.(CHIAVENATO, 1986, p. 151).
Relata, ainda, que “os malês quase vencem a guerra religiosa e fundam um estado teocrático” enfatizando que “o erro da guerra santa era justamente ser “santa”: a jihad africana estava dirigida contra todos os infiéis”. (idem, p.154-157)
Chiavenato, no nosso entendimento, faz uma interpretação distorcida da Revolta quando tira-lhe a conotação revolucionária. Sabemos todos(as) que revolução é mudança fundamental da base e da superestrutura duma sociedade. Negar à Revolta dos Malês seu conteúdo revolucionário é negar a Revolução Francesa o mesmo caráter. Por outro lado, interpreta dentro de uma visão do senso comum o termo Jihad e erroneamente anexa-lhe o entendimento de guerra santa, quando originalmente o significado deve ser: “esforço máximo e contínuo de cada um(a) à serviço de Deus”. (MAUDUDI, 1409H – 1989 DC, p.137)
Em “Bantos, Malês e Identidade Negra”, Nei Lopes traça um percurso histórico sobre os Malês e as Revoltas Negras na Bahia observando que:

Dado o grau considerável de escolaridade e consciência política com visão e experiência militar, com maior capacidade de organização e conhecendo técnicas mais novas de fabricação e uso de armas certamente transmitiam aos outro(as) negros(as), juntamente com as informações sobre o que se passava em África, o germe da revolta e da insubmissão. (LOPES, 1988, 59-77)

Afirma, ainda, que “a revolta de 35 pretendia uma Bahia só de africanos [...] sem a visão de um estado islâmico”. (idem, p.67)
Também, em “Bantos, Malês e Identidade Negra” vamos encontrar desinformações sobre Jihad.
Os “Africanos no Brasil”, do maranhense Nina Rodrigues, considerada uma das obras mais completas do gênero, contribuiu também para disseminar a visão de que a Revolta dos Malês tinha um cunho exclusivamente religioso, inclusive impregnando futuros(as) autores(as) da idéia da revolta como uma Jihad, sinônimo de guerra santa.

CONCLUSÃO

A abordagem desprentenciosa e inconclusa teve como objetivo pinçar alguns aspectos que se entende importantes para a compreensão da Revolta dos Malês e seus reflexos, ao longo dos séculos, na conscientização e conseqüente resistência negra na sociedade brasileira. Passados cento e setenta e dois anos desse evento histórico temos a data sendo comemorada, através da reivindicação de uma organização do movimento negro: a Associação Posse Hausa e acatamento da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo, por intermédio do Vereador José Ferreira, assim como da Prefeitura, por meio do Departamento de Ações Culturais, e contando com o apoio do CDIAL - Centro de Divulgação do Islam para América Latina.
A trajetória de luta e resistência é longa e, para o Movimento Negro Unificado – MNU e sua militância, na região do ABCDMRR, começa em 1989, quando a data era lembrada em atividades realizadas desde a Casa Mulher Nora Astorga até publicação de boletins informativos do GT – Balogun, passando por inúmeras atividades próprias e em projetos em parceira com as prefeituras de Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Rio Grande da Serra numa tentativa de sensibilizar setores recalcitrantes/conservadores/desumanizadores à inclusão daquilo que atualmente é obrigatório por lei.
Com advento da Lei nº 10.639/03, que alterou a Lei nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e obriga a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino e temática História e Cultura Afro-Brasileira e em complementação institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para a Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino fundamental e médio, acreditamos melhor sorte será reservada às novas gerações.
Superamos alguns percalços, mas como existem muitos entulhos desumanizadores: “A luta continua! A vitória é certa!”

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