quinta-feira, 30 de outubro de 2008

‘‘Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã’’.

Luis Gama, poeta e abolicionista escrevendo sobre sua mãe.

O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malês, por serem assim chamados os negros muçulmanos que o organizaram. A expressão malê vem de imalê, que na lingua iorubá significa muçulmano. Portanto os malês eram especificamente os muçumanos de lingua iorubá, conhecidos como nagôs na Bahia. Outros grupos, até mais islamizados como os haussás, também participaram, porém contribuindo com muito menor número de rebeldes.

Durante as primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas. Sendo a maioria deles composta por "negros ou negras de ganho" ou "ganhadores ou ganhadeiras", tinham mais liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.
O medo de que um novo levante pudesse acontecer se instalou nos habitantes da Bahia e se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil. Em quase todas elas, principalmente na capital do país, o Rio de Janeiro, os jornais publicaram notícias sobre o acontecimento na Bahia e as autoridades submeteram a população africana a uma vigilãncia cuidadosa e muitas vezes a uma repressão abusiva.
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros**. Duzentos escravos foram levados aos tribunais.
Acima de tudo, apesar de derrotada, a Revolta serviu como inspiração fundamental para as lutas contra a escravidão, não só pelo exemplo que forneceu, mas também pelo envolvimento de muitos de seus líderes e participantes, como Luiza Mahin em outros processos. Uma lição que continua viva na necessidade de travar uma luta sem tréguas contra o racismo, toda forma de intolerância e, particularmente, contra o sistema que alimenta estas práticas. O colonial, no passado; o capitalista, na atualidade.



http://www.gil.adm.br/guiadeturismo/trabalhos/revoltadosmales.htm

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